quarta-feira, 27 de março de 2013

Taco e Dingo (parte 2)

Dingo, por sua vez, nascido do outro lado da cidade, com pai e mãe definidos, com uma infância problemática apenas pela pouca socialização e alguns problemas de saúde, e com a mente sempre ocupada pela Filosofia, pelos herois de fantasia e pelos códigos de programação, sequer existia no mundo de Taco. Dingo conhecia muito de muita coisa, mas pouco do que importava. A vida. Os becos. As agruras. A devassidão da noite infinita, que cala o poeta e faz cantar o cantador mais infeliz. Ele ainda não percebera que havia mais problemas no mundo que uma derrota de seu time de coração. Bandeiras? Nenhuma. Alienação classe-média, nenhuma novidade. Alguma inompetência, talvez. Sexualidade indefinida por pura falta de experiência. Também com 21 anos, mera cronologia. Na vida, pouco mais que um bebê. Um mundo a descobrir, e o medo de se jogar. Amigos? Sim, alguns, bastante bons.

Taco surgiu na sarjeta, em meio a drogados de rua, até sucumbir em uma instituição que o acolheu, bem como vários de seus colegas. Foi adotado ainda criança, mas não vingou, fugiu de casa, e fugia e fugia, e assim vive, fugindo talvez não da vida, mas da responsabilidade em torná-la algo dotado de algum sentido. A ausência do sentido é parcialmente compensada pelos delírios megalomaníacos de uma pessoa sem qualquer planejamento concreto para atingir um objetivo. Não que haja algum objetivo, além de se deixar levar pela corrente marginal e bravia do submundo. Aprendeu minimamente a ler, mas a poesia chegava apenas através da música das catacumbas periféricas que faziam seu universo noturno. Mal via a luz do sol. Namorava a lua, chamava-a de diva, orava a ela. A natureza de certa forma o impelia às calçadas sujas livres das paredes claustrofóbicas dos cidadãos comuns.

Um comentário:

  1. rs, esse negócio de ler capítulo a capítulo tá me deixando em cólicas... rssss

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